terça-feira, 13 de dezembro de 2011

UMA HISTÓRIA REAL DE FÉ.

Salvamento Providencial no Mar


Fonte: http://www.vivaitabira.com.br/viva-interativo/viva-blog/wp-content/uploads/2010/12/navio-a.jpg


A Sra. Steinhauer, de Battle Creek, Estados Unidos, conta abaixo o interessante episódio de uma viagem que fez em navio de vela da Ilha Jamaica a Nova Orleans, em companhia de seus pais. Eram estes missionários que, havendo trabalhado a ponto de ficar com a saúde combalida, se viram obrigados a transferir-se para um clima mais fresco. Resolveram, pois, dirigir-se ao ponto acima referido. Durante a viagem um vento forte havia desviado o navio para longe de sua rota, seguindo-se então uma calmaria completa, que impossibilitava todo movimento da embarcação. Estando esta aprovisionada apenas para poucos dias, tornou-se logo necessário distribuir o alimento em rações, aos passageiros e à tripulação.

Diz a Sra. Steinhauer: "Quando os dias se prolongaram a ponto de se converterem em semanas, nossos sofrimentos tornaram-se em extremo tormentosos. Bem me lembro de estar a roer uma luva de pelica para obter dela algumas partículas nutritivas. Recebíamos meio biscoito e um pequeno copo d'água cada vinte e quatro horas - quota demasiadamente pequena de alimento e ainda mais insuficiente de água, debaixo do Sol abrasador da zona semitropical. ...

"Alguns passageiros tragavam a sua porção de água imediatamente ao recebe-la; outros acariciavam-na com veemente avidez, como se receassem que alguém, mais forte do que eles, lhas arrebatasse. Por fim, devido à sede prolongada, a língua se nos inchou a ponto de mal podermos fechar a boca. Minha mãe achava que mergulhar faixas de pano em água do mar, enrolando-as em seguida, molhadas, em volta do pescoço, lhe proporcionava algum alívio. Era com efeito para enlouquecer o ver a água em volta de nos sem podermos mitigar a sede.

"Ao cabo de quatro longas semanas decidiu-se que, a fim de fazer a parca porção de víveres durar mais uns dias, um homem fosse atirado ao mar. A sorte devia ser lançada à noite, mas a decisão não seria manifesta até pouco antes de serem distribuídas as rações, no dia seguinte, na esperança de que viesse algum salvamento antes de se proceder à execução dessa medida.

"Meu pai e um cavalheiro espanhol dormiram no convés, ao passo que minha mãe e eu, sendo as únicas pessoas do sexo feminino, além da esposa do comandante e de mais tres senhoras de terceira classe, nos retiramos para os nossos beliches.

"Escusado é dizer que já durante todos os dias anteriores foram muitas as orações feitas, mas minha mãe resolveu passar toda a noite em súplicas a Deus, o que, com efeito, fez. Cedo de manhã, adormeceu exausta, sendo acordada pela voz de meu pai, que dizia:

"- Minha esposa, parece-nos que avistamos ao longe a vela de um navio.

"- Oh! exclamou minha mãe em tom abatido, este navio passará como os demais que avistamos."

"Havíamos sido atormentados pela vista de muitos navios que, quais pontos negros, apareciam no horizonte ocidental, mas conservaram-se sempre a tão grande distância que não nos foi possível chamá-los à fala, nem mesmo que eles vissem nosso sinal de desespero. Depois, recordando-se de sua ocupação durante a noite, ela acrescentou, arrependida: 'Não, Deus me perdoe! é Ele quem ouviu a minha oração; o navio virá em nosso socorro.

"- Não estejas demasiado certa, minha esposa, disse meu pai, ternamente; pois, não quero que fiques desapontada. Naturalmente, se for a vontade de Deus, o navio virá em nosso socorro.

"É a Sua vontade, replicou confiadamente minha mãe. Estou certa de que a salvação está próxima.

"Vestimo-nos o mais depressa possível e, em seguida, subimos as escadas para o convés. Jamais me esquecerei da cena que se desdobrou ante os meus olhos. Ali, ao lado do navio de onde se avistava o objeto que esperávamos nos trouxesse o almejado socorro, estavam reunidas todas as pessoas de bordo. Não se falava nenhuma palavra, mas a simples vista não se podia discernir coisa alguma; em silêncio mortal o óculo de alcance do navio passou de um para outro, a fim de todos olharem.

"Parece, de fato, um navio. Sim, agora estávamos certos de que a nossa esperança havia tomado forma sólida. Mas viria o navio em direção ao sítio onde nos achávamos? Ou vê-lo-íamos desaparecer da vista como o navio dum sonho?

"Mas não; mais e mais o navio se aproximava de nós. Em breve o enxergávamos a olho desarmado. Sinais, não os podíamos fazer, pois estávamos demasiados fracos e extenuados. O navio, porém, ia chegando, não obstante, em linha reta. Finalmente nos deram voz:

"- Navio, olá!

"Mas nenhum dos homens a bordo tinha força suficiente para responder.

"Apesar de não obter resposta, a embarcação continuava a aproximar-se até chegar bem perto do nosso infeliz navio, quando se arreou um bote no qual tomaram lugar quatro homens, sendo um deles, ao que parecia, o comandante. A suprema ânsia daquele momento acha-se-me impressa indelevelmente na memória, embora fosse eu naquele tempo uma simples criança.

"O comandante foi o primeiro a abordar o nosso navio, e ao subir ao convés, vendo a nossa miséria, tirou o chapéu e disse em voz solene:

"- Agora creio que há um Deus no Céu!

"Verificou-se ser o navio um daqueles rebocadores que levam outros navios para o porto. Por lei esses rebocadores estão obrigados a não se afastar senão até certa distância do porto. (Era pelo menos, assim naquele tempo.) Mas a narração que nos fez o comandante foi assaz singular:

"Tendo ido até onde a lei lhe permitia, sentiu-se impelido, por força inexplicável, a continuar a marcha, e isto apesar de não se avistar ao longe nenhum navio. Seu piloto protestou contra isso, lembrando-lhe a multa em que incorria.

"- Não posso resistir! Sou forçado a prosseguir viagem! foi a única resposta.

"Pouco depois começou a sofrer um desesperado enjôo, coisa que não lhe tinha acontecido havia vinte anos, e viu-se forçado a retirar-se para o camarote; mas mesmo assim recusou-se a voltar, dando ordens que se fizessem ao mar. Então a tripulação rebelou-se, pois já começavam a sentir falta de provisão, e resolveram assumir eles próprios a direção do navio, julgando que o comandante perdera a razão.

"Neste ponto a aflição que o atormentava tornou-se agoniante, e implorou-lhes que continuassem a viagem, prometendo que, se ao nascer do Sol do dia seguinte não se lhes deparasse coisa alguma que justificasse a sua ação, abandonaria o projeto e voltaria ao porto.

"A isto os tripulantes acederam, com relutância; e, ao clarear o dia, o homem no cesto da gávea avisou que via, ao longe, um objeto escuro e imóvel.

"- Aproai ao mesmo! exclamou o comandante peremptoriamente. É isso mesmo o que procuramos.

"Nesse mesmo instante lhe passou o enjôo, e ele reassumiu o posto de comando, como dantes. Quando, ao alcançar-nos, deu com os olhos sobre os corpos macilentos e nossa desconsolada miséria, apossou-se dele com força irresistível - embora tivesse sido ateu havia muitos anos - a convicção de que um poder sobrenatural o havia guiado, e de que existia um Deus no Céu. Mais tarde, quando soube como minha extenuada mãe havia passado a noite em oração, ampliou a sua fé a ponto de incluir o fato de ser esse Deus um Deus que ouve as orações de Seus filhos e a elas atende."
 PÉROLAS ESPARSAS, 1925.

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